Olá pessoal, neste texto eu vou falar de um fio que eu fiz no Twitter e alguns comentários que foram feitos a ele.
Alexandre Zaghetto era professor da UNB no Departamento de Ciências da Computação. Em 2019 deve ter pedido licença sem remuneração em foi trabalhar na Sony, onde é Senior Research Engineer, em San Jose, California. linkedin.com/in/zaghetto/17:07 PM - 22 Apr 2022
Começou assim: eu descobri que Alexandre Zaghetto, ex-professor do Departamento de Ciências da Computação da UnB, Universidade (Federal) de Brasília, pediu demissão (o termo correto para funcionários públicos regidos pela Lei 8.112/90 é exoneração) agora em abril de 2022. Pesquisando um pouco descobri que Zaghetto hoje trabalha na Sony, na Califórnia, EUA, como pesquisador.
Uma curiosidade interessante sobre o Alexandre Zaghetto é que o perfil no Google Scholar dele lista 7 patentes como suas produções mais recentes.
Olhando rapidamente o Linkedin de Zaghetto dá para ver que ele está na Sony desde 2019. Portanto, o fato da exoneração dele ter sido publicada somente agora indica que ele provavelmente pediu, em 2019, licença sem remuneração por 3 anos. Usou este tempo para decidir e decidiu continuar na Sony.
Por que isto é relevante? Bem, o Brasil sempre sofreu com a fuga de cérebros na academia. Seja através de pessoas que vão fazer doutorado ou pós-doutorado lá fora, e não voltam, seja através de pessoas que já tinham empregos aqui no Brasil e saem para um emprego em alguma universidade (exemplo: Cal Poly), instituição de pesquisa (exemplo: Lawrence Berkeley National Laboratory) ou mesmo uma empresa onde se faz pesquisa (exemplos: Google, Microsoft, Sony) no exterior.
Mas será que o número de pessoas que está saindo está aumentando? Não sei dizer com certeza. A impressão minha e de várias outras pessoas é de que sim. Começou a aumentar em 2015 e piorou de 2019 para cá.
Ao que parece, ao menos na área de computação, a fuga de cérebros vai aumentar pois o salário bruto de um professor iniciante com doutorado nas universidades públicas brasileiras está por volta de 30 mil dólares anuais. Empresas que contratam pessoas de desenvolvimento de software podem chegar a pagar 130 mil dólares anuais para brasileiros morando no Brasil e trabalhando remotamente. Se a pessoa se dispuser a ir morar na Califórnia, por exemplo, o salário anual pode facilmente chegar a 250 mil dólares anuais ou mais.
O fio + comentários foi longo e se quiser ler tudo o link para o fio é https://bit.ly/3OxueYI.
Eu gravei um áudio que está em https://bit.ly/3Lcolhk
Eu usei o Treeverse https://treeverse.app/ para gerar a árvore de tweets e comentários https://bit.ly/3vBpVTr
A minha página "Brazilian Computer Science Researchers working abroad" está em https://bit.ly/3v8di3n. Se conhece alguém que se encaixe em uma das categorias e não esteja na lista, é só fazer um Pull Request.
Salários de pessoas desenvolvedoras trabalhando remoto https://bit.ly/3knwpjT.
An interesting observation across the tech job market:
The rise of the "top tier, remote-first, equal pay" companies.
These are ones that pay ~$140-170K/yr base for sr engineers, ~$160-240K/yr for staff, plus equity.
They are hiring away from FANG... in places like EU & India.10:38 AM - 22 Apr 2022
Vagas no Google https://careers.google.com/
Agradecimentos
Pessoas que comentaram no fio (em ordem alfabética):
- https://twitter.com/realAIexandre
- https://twitter.com/andreiformiga
- https://twitter.com/carlataciana
- https://twitter.com/decko
- https://twitter.com/dfaranha
- https://twitter.com/gwidion/
- https://twitter.com/luizcelso
- https://twitter.com/wesleyklewerton
P.S. Este texto foi inicialmente publicado em https://gist.github.com/adolfont/113d75f8248d9096cf76c680ca5f17b5
P.S.2: Leiam também os comentários à postagem deste link que também gerou uma árvore.
Fuga de Cérebros de Pessoas da Academia Brasileira bit.ly/39cPAKO12:58 PM - 23 Apr 2022
P.S.3: Achei este tuíte relevante:
Alexandre 👨💻🤠@realaiexandreSubstitua 🇦🇺 por 🇧🇷 neste artigo, multiple tudo de ruim por 3, e descubra porque tem tantos cérebros abandonando o país.
Eu fiz graduação, mestrado e doutorado em Universidades Federais. O país certamente gastou mais de R$ 1M na minha formação.
smh.com.au/education/aust…14:41 PM - 23 Apr 2022
P.S.4: Mais um tuíte relevante:
Luiz-Eduardo Del-Bem@dudelbemA burocracia nas universidades é uma das coisas que mais barram a inovação e a produtividade científica. O sistema é todo feito de forma a punir quem tenta fazer qualquer coisa. Isso gera um prêmio para quem não faz coisa nenhuma: ter mais tempo para continuar fazendo nada.16:50 PM - 23 Apr 2022
Top comments (3)
Comentário de Giancarlo Guizzardi que recebi no Linkedin:
Interessante a sua reflexão, Adolfo. Esse é um problema sério e que está se agravando no Brasil. Eu escrevi recentemente sobre isso e também falei sobre o assunto nesse evento sobre a diáspora científica brasileira, organizado pela Embaixada Brasileira em Roma.
Abraços
Eu acho que tem um outro problema que também está acontecendo que é a Fuga de Cérebros de Pessoas da Academia Brasileira para empresas brasileiras na área da computação. São pessoas altamente capacitadas que saem da academia para ser devs na indústria. Isso de todo não é ruim, pois, coloca pessoas brilhantes no mercado de trabalho, contudo, essas pessoas muitas vezes podem não estarem desenvolvendo soluções de inovação do mercado. Ao mesmo tempo, é possível que estejamos perdendo grandes pesquisadores e professores para continuar no avanço da ciência no Brasil.
Bem, neste caso não acho que "fuga" seja um termo adequado. É uma troca produtiva e benéfica para a sociedade que acontece em países de primeiro mundo também. Lembro de ter conversado com o Emerson Murphy-Hill lá no CBSOFT 2017, em que nos conhecemos. Ele era professor na North Carolina State University. Tempos depois ele foi para a Google Research e continua lá até hoje.
E temos que ter, na academia brasileira, formas de contratar pesquisadores de ponta que queiram voltar para a academia, como fez recentemente a brasileira Dilma da Silva. Ela passou anos na indústria e voltou para um cargo de professora.