O que tem ocorrido muito no cenário das empresas de tecnologia é querer contratar apenas desenvolvedores sêniors.
Principalmente por estar contratando um conjunto de habilidades e experiências, acredita-se que essas pessoas já serão operacionais desde o dia 1 na empresa, economizando o famoso tempo de Ramp-Up.
Ramp-up — etapa que define o ínicio da produção de uma indústria, com o objetivo de comercializar um produto novo
Com isso, desenvolvedores com pouca ou nenhuma experiência ficam jogados de lado na atual guerra das contratações.
Mas será que precisa mesmo ser assim?
Por que ter um líder técnico?
Quando a empresa contrata bons líderes, permite que seja possível contratar o time baseado em seu potencial, personalidade e atitude.
Entendo que o papel de um líder técnico é continuamente trabalhar no crescimento dos profissionais ao seu redor, sendo exemplo cultural e capacitando a equipe quando necessário.
Times empolgados e bem cuidados cuidarão melhor do seu produto e consequentemente dos seus clientes.
Interagir com as pessoas é o diferencial de uma posição de liderança. Inclusive, acredito ser um ponto de atenção quando o líder passa mais tempo em tarefas individuais do que interagindo com seus colegas de equipe.
Faça a seguinte reflexão: O que é mais fácil, ensinar um desenvolvedor sênior com postura pouco profissional a ser comprometido ou ensinar hard skills para um profissional comprometido pouco experiente?
Um diferencial gigante entre bons líderes e líderes em formação é a capacidade de identificar o momento da sua equipe para decidir a melhor forma de agir, e não apenas ter uma solução única que tenta atender a todos os cenários.
Não é possível cobrar a tão aclamada autogestão em times que estão trabalhando 10 horas por dia e sempre correndo atrás da próxima entrega. Aliás, autogestão não é algo que o líder deva cobrar da equipe a qualquer momento. Sua equipe tem pessoas que sabem se autogerir? Se a resposta é não, você como líder deve ensinar isso no dia-a-dia.
A menos que você seja o Thanos, as coisas não vão mudar em um estalar de dedos.
Não acredite que uma metodologia estabelecida ou um processo de desenvolvimento famoso vai resolver os problemas da sua equipe magicamente. Sim, eu estou falando com você, Scrum.
O que funciona para sua equipe não vai funcionar para as outras e vice-versa. Construa seu próprio framework baseado no que funciona e em revisões constantes do processo.
O ciclo da loucura
Sua equipe passa mais tempo corrigindo problemas do que entregando valor, seja ele em forma de melhorias ou novas features?
Se a resposta é sim, então sua equipe está no ciclo sem fim da loucura.
Uma equipe ultra atarefada não tem tempo de evoluir. Pessoas desenvolvedoras que não têm tempo para estudar ou testar novas técnicas como, por exemplo, TDD (Test Driven Development), não vão parar de gerar dívidas técnicas do dia para a noite.
Seguindo esse raciocínio, se sua equipe não tem tempo de aprender a testar melhor o próprio software, vai estar apagando incêndios na maior parte do tempo.
Se o líder técnico passa esse conhecimento ou consegue tempo para que a equipe aprenda mais a respeito, o efeito colateral será ter menos bugs e consequentemente mais tempo.
Entende que é um ciclo vicioso de cada vez ter mais calma para tomar as decisões no caminho da evolução? Mais tempo para investir, mais frutos para colher.
Seu papel como líder técnico em cenários que beiram o caos é criar tempo para sua equipe evoluir.
Como identificar que o ciclo de loucura acabou?
Basicamente com 2 pontos:
- Existe tempo para aprender.
- O tempo é usado para aprender.
Quando se tem apenas o item 1, na verdade sua equipe só está entregando menos sem nenhum motivo aparente para tal.
Deve existir uma atenção constante para que aconteça o item 2.
Como se manter nessa fase de forma saúdavel?
- Traga desafio para quem desenvolve, para que se mantenham fora da zona de conforto técnica.
- Apenas um aprendizado por vez. Não queremos ninguém da equipe em um ciclo de loucura novamente, mas dessa vez de aprendizado. Lembre-se: antes elas não aprendiam nada, agora já aprendem. Vá com calma.
- Monitore! Números são importantes. Sem números suas avaliações serão subjetivas. O monitoramento não serve para gerar um ranking entre as pessoas ou estimular competição, mas para incentivar cada pessoa a ser melhor baseada nos números dela mesmo. Não consigo ver nenhuma boa intenção em comparar os números entre as pessoas.
Nota: Não é para criar uma vida infernal para ninguém. Saúde mental é importante, desafie respeitando os limites individuais das pessoas.
Acabou? Ser um líder técnico é só isso?
Na verdade, não. Apenas temos uma forma de trabalhar mais racional e com pessoas melhorando seus skills técnicos. Agora chega o momento onde você como líder técnico realmente mostra um valor inestimável: construir novos líderes.
A intenção é que as pessoas sejam líderes delas mesmas, antes de pensar em liderar outras pessoas.
Equipes auto-gerenciáveis
- Ensinar o time a resolver o seus próprios problemas.
- Ensinar o time a lidar com situações inesperadas.
Sabe o que vai acontecer quando o time for capaz de fazer essas 2 coisas? Você vai ter a tão sonhada auto-gestão.
Entende como até chegar aqui temos um processo não trivial de construção da equipe?
Nesse momento o trabalho do líder não envolve coaching técnico ou profissional, mas a manutenção do time no atual estágio de maturidade.
Com isso já vai ser possível:
- Ter metas em vez de tarefas.
- Observar e monitorar o time para possíveis oscilações, para não termos uma regressão no modo da equipe trabalhar.
Bônus
OKR
Não é sem motivos que os OKRs (Objective & Key Results) não dão certo em todas as empresas. Equipes que não estão próximas da auto-gestão precisam ser informadas sobre o que fazer baseadas nas metas estabelecidas, pois justamente não desenvolveram a capacidade de escolher com qualidade por si próprias as ações para atingir as metas.
Vou me fazer repetitivo aqui, mas não vai ser contratando mais sêniors que esse problema vai ser resolvido.
Conclusão
O líder técnico tem um papel chave para criação de equipes de alta performance e autogerenciáveis. Se o líder técnico não está formando profissionais melhores, talvez essa pessoa seja apenas uma referência técnica ou especialista em algum tema de tecnologia — e não um líder.
Um bom líder forma outros líderes e guia o caminho para a tão falada equipe autogerenciada.
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