Minha jornada na tecnologia
Olá! Meu nome é Lissa. Sou poetisa, amante de antropologia, mitologia e biologia, cozinheira, queimadora de velas, matraca e gerente de tecnologia. Neste artigo, quero compartilhar um pouco da minha trajetória na área de tecnologia e alguns aprendizados que adquiri ao longo do caminho.
No começo de tudo
Iniciei meus estudos na área em 2019, durante um período bastante complicado para mim. A princípio, a tecnologia serviu como uma forma de fugir da minha realidade, muito por causa do processo artístico e criativo que a computação (e qualquer engenharia) envolve.
Naquele momento, não me preocupava com dinheiro, carreira, pessoas ou trabalho. Minha prioridade era transformar minhas ideias em uma arte intuitiva. Como um cubo mágico, onde as peças podem ser trocadas de posição livremente e reorganizadas para criar algo novo, sem que tenha sido planejado antecipadamente.
Essa característica da área me encantou, e comecei com Python, depois passei para JavaScript, PHP, MySQL, Node, etc. Linguagem por linguagem, framework por framework, aproveitando o tempo livre que possuía, fui aprendendo habilidades que utilizo até hoje.
Isso me leva ao primeiro aprendizado que quero compartilhar: não existe nenhum conhecimento inválido.
Todos esses conhecimentos me deram uma visão muito mais ampla de como construir software, dos processos envolvidos e das diferentes vantagens e características das tecnologias. Desde uma linguagem de backend até as situações em que usar Arch Linux pode ser útil no seu fluxo de trabalho, ou quais características de um framework definem se ele será adequado para determinado microserviço.
É fundamental que toda pessoa desenvolvedora, ao menos uma vez na vida e, idealmente, ao longo de toda a carreira, experimente, estude, pratique e, mais importante, brinque com os recursos que a computação oferece. O sistema econômico vigente idealiza o software como um produto final, seja ele um monolito, um MVP ou um escopo. Mas não. Software é o processo de pensar e criar arte com computadores.
No início da minha jornada, também comecei a participar de comunidades de tecnologia, por volta de março de 2020. Isso me leva ao próximo aprendizado: nunca esteja na solidão.
A área (e a sociedade, de modo geral) incentiva muito um processo de afastamento entre quem somos como desenvolvedoras e nossa identidade fora do trabalho ou estudo, e essa separação é totalmente artificial.
Assim como em qualquer ocupação, podemos nos relacionar com outras pessoas que fazem o mesmo que nós. Para quem trabalha com tecnologia, isso é particularmente importante, pois promove a troca de conhecimento e experiências, algo extremamente valioso. Definitivamente, participar dessas comunidades foi uma das melhores decisões que tomei na minha carreira.
Um artigo correlato que posso indicar sobre o assunto é O que são comunidades de tecnologia?, escrito por mim mesma, hihi.
Um chamado irrecusável
Após cerca de três anos de experiência na área, fui convidada a participar de uma comunidade que foi essencial para a minha carreira, a Feministech. Inicialmente, fui apenas uma membra, mas, por já atuar nesses espaços, rapidamente me tornei coordenadora. Nessa posição, tive muita liberdade para praticar um processo de criação na tecnologia bastante diferente: a criação de conteúdo técnico ou pessoal para pessoas da área.
Aqui chegamos ao próximo ponto: a tecnologia é feita de pessoas, para pessoas.
Não há como pensar em um artigo ou palestra sem considerar quem está consumindo aquele conteúdo. É necessário um processo empático para entender a leitora, suas necessidades, desejos e missão, e, com base nisso, atuar diretamente nas suas dores.
Embora isso possa parecer desvinculado da área técnica, é uma habilidade essencial. Como você vai ajudar sua colega de trabalho a resolver um bug, explicando os motivos do problema? Como você apresentará uma issue à gerência ou ao PO, explicando por que determinada feature precisa de mais tempo? E, para um cliente, como você justificará que o seu sistema é a melhor solução para o negócio dele?
Essa seção, na verdade, não trata de tecnologia, mas de comunicação e documentação. Trata dos processos que compõem as relações entre pessoas e como melhorar a compreensão e adesão às suas palavras. Logo, é um processo não computacional, mas sim, humano.
Necessidades surgem...
Alguns acontecimentos na minha vida me obrigaram a buscar um emprego remunerado na área, levando-me à minha primeira experiência profissional como desenvolvedora pleno.
Nessa experiência, o principal aprendizado foi a relação multidisciplinar entre pessoas de tecnologia e especialistas de domínio, reforçando o que já mencionei: o processo de desenvolvimento de software é humano.
Infelizmente, não demorou muito para que eu recebesse um presente inesperado em vez do meu salário: um layoff.
Isso me forçou a ativar o selinho de "opentowork" e voltar a procurar emprego. Felizmente, encontrei outra oportunidade na empresa em que trabalho atualmente.
Aumento da escala
Na época, era uma empresa pequena, com poucos clientes e recursos, e fui contratada como desenvolvedora. Mas, em poucos meses, graças à abertura que tinha com minha superior, comecei a assumir novas responsabilidades, aplicando as habilidades que desenvolvi durante meu período em comunidades de tecnologia. Todo o aprendizado sobre liderança e comunicação estava sendo colocado em prática em uma empresa real, com outras desenvolvedoras como eu.
Inicialmente, foi um processo confuso. Mas, como a empresa ainda era pequena, havia espaço para agir com cautela e paciência, primeiro treinando pessoas em início de carreira, acompanhando sua evolução e desenvolvimento. Com o crescimento da empresa e a prova de que meu trabalho estava gerando resultados positivos, comecei a interagir diretamente com a área de vendas, desenvolvedores mais experientes, clientes e o setor de negócios.
Até hoje sinto um frio na barriga ao pensar nisso. Como eu, apenas uma desenvolvedora que começou na área sem rumo na vida, cheguei a um ponto em que outras pessoas dependem diretamente do meu trabalho, presença, relevância, atenção e coragem?
Fazer planejamento de escopo, definição de fluxos, conversas com clientes, acompanhamento da evolução da equipe, realização de contratações e demissões, tudo com habilidades que desenvolvi através de tentativa e erro?
Isso nos leva ao maior aprendizado deste artigo: sempre busque algo melhor para você.
Lembre-se de que a única pessoa que pode levar você ao lugar onde deseja chegar é você mesma. É um processo tortuoso, lento, e muitas vezes parece que estamos caminhando descalças, mas os frutos são recompensadores, e digo isso mesmo sem ter chegado à minha "macieira" ainda.
É assustador ter responsabilidades, é assustador saber que pessoas dependem de você, mas qual processo de evolução não gera medo? Qual processo de descoberta, ação e execução não gera traumas? Que interação social não nos faz sentir vergonha ou dúvida? Que máscara esconde completamente nossos medos e inseguranças?
Enfrente o processo de recuar e busque o que você deseja. Seja a melhor desenvolvedora, lidere uma equipe, faça vendas como ninguém, seja um ponto de referência em sua comunidade, seja uma provedora para alguém. Não tenha medo de tentar. No pior cenário, você falha e volta para onde está agora.
Enfim, acho que, em resumo, era isso que eu queria relatar neste artigo. Foram 5 anos de muita intensidade, e felizmente essas experiências me engrandeceram muito, mesmo que eu ainda esteja no início da minha jornada.
Espero que este artigo ilumine ao menos um respiro na sua caminhada, leitora, e que os aprendizados aqui compartilhados ajudem você a seguir um caminho merecedor.
Muito obrigada por ler 💛🏳️⚧️
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