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Marcos Felipe
Marcos Felipe

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O código perfeito

Inevitavelmente um caminho que será encontrado por quem escreve códigos, em algum momento na carreira, é o da necessidade de escrever códigos melhores, pois afinal, queremos sempre resolver os problemas de formas mais simples e eficiente. Após esse caminho ser encontrado, aprendemos o quanto antes a necessidade de sempre nos questionarmos se o que está sendo entregue está dentro do que sabemos e consideramos de boa qualidade.

Com o tempo e com mais aprendizados, acreditamos que fica mais fácil distinguir um código bom do ruim, mas até mesmo o código bom aparenta não estar ideal, ainda não chegou no estado da perfeição idealizado por nós.

O ser humano se defronta com essa ideia de perfeição há muito tempo, isso por um lado pode ter trazido muita angústia, decepção ou esforço inútil, mas por outro lado pode ter trazido grandes avanços. Já analisando isso de uma forma mais próxima de nossa área, a busca pelo código perfeito trouxe para várias pessoas, muitos aprendizados, seja de novos padrões, linguagens ou outras maneiras de solucionar o mesmo problema, porém trouxe também muitas angústias ou decepções, afinal pode ser muito decepcionante quando seu código com toda sua bagagem de pesquisa se torna mais um problema do que uma solução.

Há cerca de 25 séculos atrás, Platão criou sua versão sobre a perfeição que está diretamente ligada a nossa percepção da realidade. O filosofo defendia que a percepção da realidade é dividida em dois mundos, o mundo das ideias e o mundo dos sentidos.

O mundo das ideias seria o mundo das formas perfeitas, onde se tem todas as ideias primordiais, sendo que essas ideias são eternas e perfeitas e só podem ser alcançadas pela razão. Basicamente nesse mundo é onde estão todas as “formas” que nos ajudam a definir que algo é algo. Somente com a percepção desse mundo somos capazes de saber que uma cadeira sempre será um objeto para sentar, não importa seu tamanho ou modelo.

Já o mundo dos sentidos seria o mundo em que vivemos, em outras palavras o mundo material, que só pode ser percebido porque todos temos a ideia de um mundo idealizado (as formas existentes no mundo das ideias). Esse mundo é defendido como uma cópia do mundo das ideias e por se tratar uma cópia está sujeito a erros e não é eterno.

Somos capazes de imaginar um código perfeito, pois essa forma está no mundo das ideias, mas jamais desenvolveremos um assim, pois o desenvolvimento pertence ao mundo dos sentidos. Qualquer código terá bugs, pontos a melhorar ou problemas de performance. Já a ideia do nosso código perfeito não, essa ideia é perfeita.

O paradigma da perfeição

Vivemos em mundo imperfeito, sujeito a vários erros. Usamos os aprendizados para tentarmos chegar a perfeição e nos livrarmos dos erros, pois acreditamos que o modelo idealizado por nós do código perfeito é um objetivo factível.

Infelizmente, é preciso te dizer que o código perfeito que foi idealizado por você, é impossível de ser alcançado, é uma utopia. Esse modelo que você idealiza como a perfeição, é incapaz de ser alcançado. Você não sabe exatamente o que falta para seu código ficar perfeito, mas você sabe que não está bom. O código respondeu a todas as necessidades com maestria, mas você ainda idealiza que ele não está bom.

Essa busca pela perfeição gera frustração naquele que tenta trazer para a realidade sua ideia imaginária de perfeição. A frustração muitas vezes impede o executor de continuar sua tarefa, pois o que foi executado não importa mais, importa apenas é a aproximação do mundo real com o imaginário. Parece que a cereja do bolo é mais importante que o próprio bolo.

Entender que a perfeição é algo inatingível, não é motivo para entregar resultados ruins. Não é por que é uma utopia que devemos fazer as coisas de qualquer maneira. Não se engane, até mesmo a perfeição, que é inatingível, é extramente útil como modelo de aperfeiçoamento.

Outro filosofo, que inclusive foi aluno de Platão, chamado Aristóteles, defendia uma outra linha de raciocínio que pode ser o caminho de saída da angústia da busca pela perfeição: a excelência. Enquanto a perfeição é uma impossibilidade, algo inatingível, a excelência é factível, pois significa “o melhor possível”, algo atingível ao ser humano.

Ser escravo da perfeição é aceitar um caminho de angústia, em contrapartida abandonar a perfeição pode nos tornar pessoas medíocres. A resposta está no meio termo. Precisamos reconhecer os limites e também de utopias para nos aperfeiçoarmos.

Sabemos que não atingiremos a perfeição, mas podemos ter compromisso com a excelência e colocar o nosso melhor naquilo que fazemos.

Espero que isso te ajude de alguma forma.

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