DEV Community

Cover image for Minha história com changelogs/notas de versão
Vitor Norton
Vitor Norton

Posted on

Minha história com changelogs/notas de versão

Numa época nem-tão-distante-quanto-parece da minha vida, eu tive a meta de lançar um aplicativo por semana para Windows Phone. Sim, Windows Phone. Melhor sistema operacional mobile, e quem discordar tá errado.

Sim, eu não bato bem da cabeça, mas em minha defesa também não tinha app nenhum por lá na época.

Enfim, Windows Phone. Eu amava lançar aplicativos pra ele. Queria impressionar. Não fazia ideia de como conseguia bater números records de downloads e tinha gente que pagava pelos meus apps. Aliás, isso ainda acontece! De vez enquanto chega uma graninha e eu fico surpreso com o fato de alguém ainda pagar pelo meu app, que teve sua última atualização há 6 anos, em um sistema que já está morto.

10k downloads num app horrível, pra Windows Mobile 10, ou seja 90% dos devices da Nokia não eram compatíveis, era pago e direcionado a um público bem específico: devs!

O ponto de querer impressionar veio muito de como eu aprendi a gostar de tech. Eventos! Apple, Microsoft, Google. Sempre faziam esses eventos e mostravam o que tinha de novo no sistema deles e era incrível acompanhar isso. Eu sou geração Steve Jobs! Me respeita! (apesar de achar ele um [TEXTO REMOVIDO PELO JURÍDICO]). Eu carrego a filosofia do “one more thing” pra tudo na vida. Literalmente tudo.

Image description

Eventos como o IO, Microsoft Build, o WWDC e tal, além de mostrar o que os desenvolvedores estavam aprontando, também ensinava os usuários sobre suas novas features. Eu ficava ansioso para esses eventos, pois eu realmente aprendia alguma coisa ou outra do que é possível para desenvolver e acabei me tornando referência – e posteriormente ganhando prêmios da Microsoft sobre isso.

Então nestes eventos aprendia que agora a API do Windows daria suporte para Live Tiles, ou ações rápidas no menu de contexto ou até mesmo que o Aplicativo da Loja da Microsoft poderia iniciar quando o sistema iniciasse.

É o que eu sempre digo, principalmente para meus alunos, desenvolvimento é mais sobre saber o que é possível do que saber como fazer. O “como” tem tutoriais, Google, ChatGPT e você pode pedir ajuda. Saber que é possível é bem mais interessante e te capacita mais.

Acompanhar estes eventos despertou meu desejo de entrar na área de tech, pois eu queria ser esse cara aí, Joe Belfiore, que é o responsável por tudo que é Windows e Consumer. Queria poder contar o que estava sendo feito. Uma coisa me chamava atenção nos eventos que era o quão orgulhoso eles eram, no bom sentido, do que haviam realizado.

Queriam mostrar para o mundo que conseguiram reduzir um item em dois milessegundos.

Untitled

Na época eu cheguei até stremar os eventos. Com grande sorte tomei café com o Joe e ele disse que sabia o que eu estava fazendo – meio ameaçando, saca?, fiquei com medo e parei pois não sabia se era ilegal ou não fazer esse re-streams. Idiota eu ter parado né? Anos depois bati papo com ele e ele gostava e queria ter me incentivado ao invés de ter feito eu parar.

Mas vamos voltar a falar de orgulho um pouco.

Um dos motivos de eu ter amado tanto o famigerado Windows 8 - sim o sistema que chegou a ser mais odiado que o próprio Windows Vista - foi um tal blog “Construindo Windows 8”.
Nele, antes mesmo do Joe mostrar aquela tela inicial que todos odiavam, tinha artigos técnicos sobre como foi a evolução de cada um dos pontos do sistema, comparado com o Windows 7.

Untitled

Olhar por exemplo a função de copiar e colar, e o tempo estimado para realização tal operação. Destrincharam o motivo de as vezes mostrar que demoraria anos pra copiar um arquivo e porque não dava para resolver isso, apenas mitigar.

Era um espaço puramente técnico, que muitas vezes voltava no site só para me sentir motivado a fazer algo um pouco melhor do que eu estava fazendo. O orgulho, a motivação, me faziam ficar apaixonado.
Entender a quantidade de esforço, colaboração, e até mesmo diversão, que essa galera tinha ao fazer uma função tão pequena me fez respeitar o trabalho deles, e ser um mega entusiasta do Windows 8 – e vou defender até meus últimos dias.
Infelizmente a Microsoft tirou do ar. Mas eu fiz a minha versão.

Eu não tinha um palco, não tinha uma plataforma tamanha como a Microsoft, só o que tinha era um computador e um exemplo de como fazer um Hello World. Mas eventualmente acabei tendo um blog. Quis passar naquele blog tudo o que estava fazendo, como fui evoluindo de um Hello World para um aplicativo de editor de código, e com isso um marketing para meu produto.

Duas séries de postagens

Pensando nisso criei dois segmentos de postagens, que honestamente estou com saudade de escrever:

Respondendo feedbacks

Fiz isso quando recebi um feedback, peguei os principais feedbacks que recebia e destrinchei o que estava acontecendo e se era uma feature porque era daquele jeito, ou se era um bug como consertei e o que aprendi.

Mostrei as falhas e não tive medo de explorar elas.

De pegar um feedback de um usuário e transformar em texto e alteração no código, mostrar como foi feito, em detalhes… Foi exatamente isso que eu sentia quando lia o blog construindo windows 8, e a possibilidade de escrever e colocar aquilo no mundo é o que me motivava em primeiro lugar a criar código.

Construindo o produto

Todas as grandes decisões a respeito do meu editor de código eram documentadas em postagens., até mesmo sobre como foi a escolha do nome, ou como foi a criação dele para permitir que a edição de código acontecesse em realidades alternativas via o Microsoft HoloLens.

Detalhar como foi feito o sistema para criação de novos arquivos usando o Formula e porque ele era tão intuitivo me ajudou a entender os feedbacks de usuários e o público alvo: quem estava começando a programar amava não só o app, mas as postagens. Ajudava eles.

Eu disse DETALHES! Um dos elementos que agrega valor a um logo, por exemplo é o espaço em branco em volta dele. Quer valorizar sua marca? Aprenda com os melhores! A Apple não permite comentários em suas postagens oficiais, pois não quer ver a marca ser desvalorizada com pessoas reclamando de seus produtos lá, ou fazendo qualquer tipo de ativismo por lá. É só sobre a marca.
Nisso designers mandam bem. Um plano de saúde por exemplo não quer usar imagens de pessoas hospitalizadas para publicidade, usam de pessoas felizes, fazendo atividades físicas e comendo algo saudável, é assim que é feito.

Por exemplo, fiz uma postagem aonde mostro detalhes de como foi feito o ícone do meu aplicativo: Formula. Assim as pessoas sabem qual o tamanho de esforço que foi colocado em algo que elas praticamente não percebem.

E mais importante, me forçou a ter esse esforço.

Mas é importante ressaltar que não é sobre o que você fez e sim sobre o quanto aquilo é importante para o usuário. É ver na perspectiva do usuário o que muda, e como ele se beneficia com isso.

O verdadeiro motivo de ter escrito tudo isso

Por que escrever sobre isso? Porque estes detalhes realmente agregam valor na sua marca, poucas pessoas vão realmente ler e divulgar isso, mas as que lerem, vão se apaixonar e falar o quão o seu produto é bom.

Então, não sei se você notaram, mas os tempos mudaram. Nós não compramos mais jornais para olhar o que vai passar na TV e no cinema. Alguém aí sabia que isso existia? Ok... Então, o tempo mudou, não é mais suficiente para uma empresa ter só um produto ou um serviço, muitos aqui fazem um produto ou proveem um serviço para a empresa em que nós trabalhamos. Mas não é suficiente ter só isso. Agora, enquanto a gente está tendo essa conversa, 10 startups apareceram. Eles estão vindo pra você. Eles querem perturbar você. Eles querem dizer: "vocês estão por aí a muito tempo, vocês não usam a tecnologia da forma que deveria, nós estamos aqui para mostrar como é feito".

Há muito barulho lá fora, e não é suficiente para nós termos apenas uma plataforma. Todos nós devemos ter uma plataforma. Ela nos eleva, nos coloca acima do barulho. Uma plataforma constituída por humanos. Os humanos para quem você vende o seu produto. Elas amam o seu produto. Elas o vendem, compartilham pra todo mundo nos meios sociais e pessoalmente expressam o quanto amam o seu produto e o quanto os outros deveriam utilizá-lo.

Nos tempos de hoje, nós não podemos sentar no nosso escritório e esperar que os clientes escrevam cartas ou nos ligue no telefone por um suporte ao consumidor. Não! Eles podem ir ao Twitter (ou X) em cinco segundos e destruir o seu negócio. É vital que companhias e negócios e organizações, esteja antenada aos sinais que estão lá fora.

Como você recebeu a última informação de notícias? Como soube do falecimento da Rainha, por exemplo? Twitter. Instagram. Redes sociais. É assim que você sabe disso, é assim que você sabe sobre tudo. É assim que o mundo gira. Então todos nós que não estamos antenados aos consumidores que estão falando sobre nós nas redes sociais, estamos falhando. Porque nós não vamos aonde eles estão. Nós estamos aplicando a regra antiga que diz: “Venha até nós, nós iremos ouvir.” Não! Nós não podemos fazer mais isso, não funciona!

A métrica mais importante é a comunidade

A muito tempo atrás, nós dançávamos Bonde do tigrão. E empresas costumavam analisar as vendas. Era isso. Vendas ou adoção, é isso. Uma vez que sua venda fosse concluída ou que o sistema estivesse instalado no cliente, está pronto. É isso. Mãos lavadas. Adeus. Eu fiz o meu trabalho, quem sabe o que eles vão fazer com isso? Não é meu trabalho, o meu trabalho é vender.

Depois, migramos para o paradigma dos usuários ativos. Quando o usuário está ativo, de onde ele é, que horas ele está ativo. Quantas pessoas estão utilizando a coisa que você instalou no computador deles? Mas isso já não é suficiente, tem muitos competidores lá fora.

Mas tem outra medida, acima dessas, que é o sucesso da sua comunidade.

É isso que conta. A métrica de sucesso que deve ser a principal: é o sucesso da sua comunidade. Porque se alguém não tiver sucesso ao utilizar o seu produto ou serviço, eles não vão usar novamente. Simples. Eles também não vão recomendar a outras pessoas.

Changelogs são o marketing do seu produto

E é tendo isso em mente que devemos olhar para os release notes, changelogs, notas de versão, chame como quiser, como marketing. Divulgar e gastar um tempo sério em como fazemos isso.
Sim, release notes deveria ser tratado como marketing. Bota anúncio, faz evento, deixa todo mundo saber o que você está fazendo, porquê e como! Será a melhor estratégia de marketing, na minha mais humilde opinião - e fui dono de agência de marketing eu sei uma coisa ou outra sobre isso.

Já deu para estabelecer o quanto eu acho que chagelogs são importantes para o seu produto, para a sua comunidade. Eles ajudam a construir um defensor da sua marca, um advogado (aquele que advoga a favor de), ou se você for um faria limer, um advocate. Se seu produto ou serviço for técnico ainda, ajudam a construir desenvolvedores. Funcionou comigo.

O importante aqui é ter mostrado o quanto um changelog/notas de versão/relase notes são importantes para criar uma comunidade de pessoas usuárias do seu produto.

Top comments (2)

Collapse
 
robsongrangeiro profile image
Robson Grangeiro

Muito interessante seu ponto de vista e seu post toca num ponto que não é o principal tema, mas para mim faz toda a diferença quando leio um post sobre a jornada de alguém: é bem humorado. Parabéns pelo crescimento que agrega a comunidade quando compartilha algo neste nível. Obrigado e forte abraço!

Collapse
 
vtnorton profile image
Vitor Norton

Obrigado pelo seu comentário ;)